Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.
O Brasil cresceu visivelmente nos últimos 80 anos.
Cresceu mal, porém. Cresceu como um boi mantido, desde bezerro,
dentro de uma jaula de ferro.
Nossa jaula são as estruturas sociais medíocres,
inscritas nas leis, para compor um país da pobreza
na província mais bela da terra.
Sendo assim, no Brasil do futuro, a maioria da gente nascerá e
viverá nas ruas, em fome canina e ignorância figadal,
enquanto a minoria rica, com medo dos pobres,
se recolherá em confortáveis campos de concentração,
cercados de arame farpado e eletrificado.
Entretanto, é tão fácil nos livrarmos dessas teias,
e tão necessário, que dói em nós...
A nossa conivência culposa.